Desde o término da apuração das eleições, no domingo (30) à noite, presenciamos no país uma onda de manifestações contestando o resultado das urnas. O destaque, sem dúvida, foram os bloqueios de rodovias, classificados unanimemente como atos antidemocráticos.
Centenas de entidades, dos mais variados setores, repudiaram os bloqueios que ocorriam em rodovias de sul a norte do país. Em alguns casos, usando crianças e idosos como “escudo humano”, num gesto de total irresponsabilidade e contradição daqueles que dizem “proteger a família”.
CUT-SC repudia movimentos antidemocráticos e reforça respeito ao resultado das urnas
Nota das Centrais Sindicais: Eleições legítimas e o povo soberano
Uma das principais características de regimes democráticos é justamente a realização de eleições periódicas e livres, como a que ocorreu no Brasil no dia 30 de outubro. A regra fundamental da democracia é a regra da maioria.
Por isso, bloquear estradas para contestar o resultado das urnas se opõe ao regime democrático, às instituições e aos princípios assegurados pela Constituição. Além disso, indivíduos que disseminam notícias fraudulentas, proferem ofensas ou ameaças e externalizam opiniões racistas devem responder civil ou penalmente pelas condutas praticadas.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, classificou como criminosos os manifestantes que contestam o resultado das eleições por meio dos bloqueios de rodovias e que cobram por intervenção militar em atos realizados em frente aos quartéis.
O episódio expoente da classificação antidemocrática dos bloqueios ocorreu no município de São Miguel do Oeste, quando, durante a execução do hino nacional brasileiro, manifestantes supostamente fizeram uma saudação semelhante à utilizada pelo nazismo, relembrando Adolf Hitler, líder do Partido Nazista da Alemanha. Fazer apologia ao nazismo é crime.
O Neonazismo, essa nova faceta do nazismo, representa um movimento contemporâneo inspirado na ideologia nazista e está pautado na intolerância e violência sob o ideal de “superioridade”. Os neonazistas são racistas e xenófobos com grupos como os negros, imigrantes, homossexuais, judeus, entre outros
O que ocorreu na cidade do oeste catarinense, porém, não é um fato isolado em Santa Catarina. Recentemente, a polícia prendeu no Estado um grupo de jovens acusados de neonazismo. Foram presos três integrantes da célula em Joinville e um quarto membro em São José. Entre eles, um estudante de Engenharia Automotiva e outro que cursa Letras, ambos da UFSC.
Levantamento divulgado por pesquisadores em 2020 revelou que há uma onda neonazista em Santa Catarina maior do que no restante do país. A antropóloga Adriana Dias, doutora e pesquisadora do tema, monitora há 18 anos células extremistas no Brasil. Conforme o estudo, naquele ano, existiam 85 células neonazistas em território catarinense. Considerando as populações por estado, Santa Catarina tem a maior concentração desses grupos em atividade, o que é alarmante.
Em janeiro deste ano, a antropóloga revelou outro dado ainda mais preocupante: um crescimento de 270% dos grupos neonazistas no Brasil entre janeiro de 2019 a maio de 2021. Um dos objetivos em comum desses grupos é fomentar o discurso de ódio.
Os argumentos, que acabam sendo reproduzidos nas ruas e em outros ambientes, não trazem nenhuma novidade. A luta contra comunistas. Contra aqueles que, supostamente, usam os espaços de poder para controlar o dinheiro e assim dominar a população. Ou para evitar os riscos espirituais e morais daqueles que, segundo eles, não têm pátria, não são confiáveis. Que querem destruir a família e os valores cristãos.
A retórica falida e sanguinária serve como pretexto para agredir e por vezes até matar em nome de uma causa “maior”, como já vimos em muitos casos. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência. Não à toa, o slogan “Deus, Pátria e Família”, foi criado pelo fascismo na Itália, movimento que antecedeu o nazismo.
Estamos diante de uma oportunidade histórica de fazer o Brasil andar para frente, com democracia, com respeito às urnas, e também com avanços na economia, na sociedade, nas políticas públicas. Não será um trabalho fácil e não dependerá apenas da classe política, mas de toda a sociedade brasileira. Será preciso organização de todos, enquanto cidadãos e instituições. Limpar o que foi deixado pela direita extremista será um caminho longo a ser percorrido com resiliência e firmeza.
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