Terceiro módulo do curso Saúde do Trabalhador aborda o tema “O que é assédio moral?”

O Sintram/SJ realizou no último dia 31 de outubro a terceira etapa do curso Saúde do Trabalhador, que teve como tema O que é assédio moral?. O assunto foi abordado pela psicóloga Graziele Justino e pela psicóloga e fisioterapeuta Alessandra Zappelini. O evento foi realizado na sede do sindicato, na sala de formação Valmor Paes da Silva.

Neste módulo os participantes também puderam conhecer e praticar exercícios de Lian Gong: prática corporal elaborada na década de 1970 para tratar e prevenir dores no corpo, problemas osteomusculares, articulações, entre outros, além de atuar nas disfunções dos órgãos internos e problemas respiratórios.

Alessandra Zappelini explica que o Lian Gong é composto por 18 exercícios, divididos em três séries, que trabalham o pescoço e ombros, as costas e a cintura e as pernas e pés. É uma ginástica que não demanda aparelhos, podendo ser praticada em qualquer lugar, individualmente ou em grupo. “É fácil de executar e traz benefícios em vários aspectos”, diz ela.

Por apresentar diversos resultados terapêuticos e preventivos positivos, Alessandra defende que tal prática passe a fazer parte das políticas públicas de saúde do trabalhador no município de São José. “O sindicato cumpre um papel importante ao dar visibilidade ao Lian Gong e outras técnicas semelhantes, pois fomenta a discussão sobre saúde ao mesmo tempo em que apresenta e propõe alternativas”.

No Brasil, secretarias de Saúde de vários municípios já integraram a prática do Lian Gong como coadjuvante no tratamento e prevenção de doenças.

Assédio moral

Na segunda parte do curso, a psicóloga Graziele Justino abordou o tema O que é assédio moral?. Tal ato pode ser considerado como um comportamento que tenha como objetivo agredir, humilhar, discriminar, acusar, vigiar, desmerecer, desestabilizar ou desmoralizar a identidade de qualquer sujeito em suas relações. Como consequência, explica, isso causará sofrimento à outra pessoa, afetando sua saúde biopsicossocial.

Durante o curso foram abordadas principalmente situações do ambiente de trabalho no serviço público, considerando as escalas de poder e classes sociais e como isso afeta a saúde dos trabalhadores a partir de ações de assédio moral. Porém, a mesma situação também pode ocorrer dentro do espaço familiar, entre amigos etc.

Tipos de assédio

De acordo com Graziele, dentro da perspectiva do ambiente de trabalho podem ocorrer três tipos de assédio moral:

Interpessoal – É o modelo mais conhecido e identificado com mais facilidade. Pode ser vertical: de uma pessoa na escala de maior poder sobre outra que seja sua funcionária por exemplo. Pode ser horizontal: de um grupo de pessoas contra uma específica, ou vice e versa. Exemplos: fofocas de cunho preconceituoso (racismo, gordofobia etc), chefias que criam metas inalcançáveis para servidores específicos. Humilhação de uma chefia ou grupo de pessoas contra algum servidor com deficiência ou problema de saúde.

Sexual – É um modelo de assédio moral bastante conhecido, infelizmente ainda pouco denunciado. Qualquer ação ou comportamento que tenha como objetivo o favorecimento sexual. Exemplos: um colega acariciar o cabelo do outro sem consentimento, uma chefia oferecer um jantar em troca de favorecimento no trabalho. Importante a atenção sobre violências de gênero, que também podem se caracterizar além de assédio moral, como importunação sexual, que hoje é considerado crime.

Organizacional – Esse modelo é o que apresenta maior dificuldade para ser identificado como assédio moral. Modelos de gestão ou de cultura e clima organizacional que afetam uma boa parte dos trabalhadores, ou um grupo de trabalhadores, com a intenção de desmoralizar e desestabilizar. Exemplos: identificar trabalhadores que não alcançam metas com desenhos de tartaruga, cartões para cálculo e limitação de uso do banheiro, cobranças políticas sobre servidores com funções gratificadas, desvio de recursos públicos, desvios de funções etc.

Comunicar é importante

Graziele destacou a importância de denunciar casos de assédio moral. Primeiramente, diz ela, para que os atos de violência sejam visibilizados. De acordo com a psicóloga, há um número considerável de casos que não são notificados como acidente de trabalho ou mesmo situações de violência no ambiente de trabalho. “Essas pessoas tendem a se sentir isoladas, culpadas, com vergonha. Não dialogam com ninguém sobre a situação, criando possíveis transtornos mentais mais graves. É necessário diálogo e denúncia sobre situações de assédio moral”.

O segundo ponto importante é responsabilizar a empresa. No caso dos servidores públicos municipais, a Prefeitura. A responsabilidade de uma situação de assédio moral será sempre da Administração, visto que tal prática precisa ser combatida com recursos humanos preparados e humanizados para lidar com clima organizacional e perspectiva em saúde do trabalho.

O assédio moral e saúde do trabalhador

As pessoas vitimizadas, que sofreram assédio moral, possuem difícil recuperação. Graziele explica que é necessário entender o assédio moral como algo que marca a identidade de alguém por muito tempo. Dos casos de ansiedade e depressão no Brasil, 50% são identificados como situações decorrentes de condições de trabalho, e delas muitas situações de assédio moral. Tendo isso em vista, diz ela, é necessário pensar esse tema como política pública de saúde.

O sindicato como espaço para acolhimento

Como não há espaço adequado e capacitado dentro da estrutura da Prefeitura para saúde do trabalhador, ou mesmo um RH que tenha aptidão para lidar com as situações de assédio moral, o Sindicato passa a ser o principal espaço de acolhimento dessas situações. A direção da entidade, explica a psicóloga, tem se preparado para atender essas demandas. “Vemos como responsabilidade e prioridade orientar e debater com os servidores sobre saúde do trabalhador e suas condições de trabalho”, diz.

O sindicato também disponibiliza assessoria jurídica para orientações quanto à possíveis denúncias ou ações judiciais. O Sintram/SJ mantém ainda um convênio com o Sindicato dos Psicólogos de Santa Catarina para atendimento dos filiados. “É importante trabalhar e dialogar cada vez mais com a categoria sobre o tema, notificar mais situações e nos acolhermos como trabalhadores”, finaliza.

Próxima etapa

O quarto e último módulo do curso Saúde do Trabalhador acontece no dia 19 de novembro, às 18h30, e terá como tema O que é Qualidade de Vida no Trabalho?. O assunto será apresentado pela psicóloga Cristina Corrêa e pela psicóloga e fisioterapeuta Alessandra Zappelini. Nesse dia, os participantes poderão conhecer a Prática de Play Mobility.

O formulário para inscrição pode ser acessado aqui.

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