No dia 7 de agosto, quinta-feira, o Sintram/SJ realizou uma roda de conversa para debater as políticas públicas que envolvem pessoas com deficiência, neurodivergentes dentre outras condições, no contexto do município de São José. Na atividade, participaram Karem Resende (Pedagoga e Mestra em Educação Profissional e Tecnológica), Livia Girardi (Pedagoga e Mestra em Educação) e Leandro de Oliveira (Assistente Social no município de Florianópolis, mas que já atuou como servidor em São José), e contou também com a presença da diretoria do Sintram/SJ, da sociedade civil e de diversos servidores de São José. Foi um momento importante na construção e no fortalecimento das lutas em defesa dos direitos da população josefense.
A pedagoga Lívia Girardi falou sobre sua pesquisa de mestrado e destacou que o atendimento às pessoas com deficiência não surgiu na educação especial, e como essa política pública é nova (1973). Lívia destacou que antes, as pessoas com deficiência eram atendidas em instituições privadas, ligadas à ordem religiosa:
“O que acontecia: para retirar essas pessoas da sociedade, faziam o atendimento nessas instituições, porém, não eram todas as pessoas com deficiência que tinham acesso, eram somente as pessoas que tinham possibilidade de chegar mais próximo de uma dita ‘normalização’. Quem tinha essa possibilidade era atendida, quem não tinha, ficava dentro de casa, excluído desse meio”.
A pedagoga explicou que em 1954 foi criada a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, que existe até hoje. Lívia destacou que não é função da APAE fazer a escolarização das pessoas com deficiência, mas sim a escola. “A APAE não vem fazer um trabalho educacional, ela não vem fazer a escolarização, ela vem fazer reabilitação. Não é a função dessa instituição fazer a escolarização”, salientou.
Livia também aproveitou para enaltecer a vitória do movimento grevista dos servidores e servidoras de São José em 2025, que conquistou a criação do cargo de auxiliar de ensino de educação especial efetivo para o quadro do magistério. Segundo a pesquisadora, essa vitória vai na contramão de uma lógica nacional de terceirização e descaracterização dessa profissão, que por muitos, ainda é vista como de cuidadores.
Karem Resende, que é aposentada da educação de Blumenau e pessoa com deficiência visual, destacou que é preciso ter acolhimento com as pessoas com deficiência, principalmente no quesito de oportunizar que todos possam ter acesso ao trabalho e a condições de permanência nos espaços, direitos que lhes foram negados historicamente. “Nunca deram o direito das pessoas com deficiência decidirem o que querem fazer. Quando sofri o acidente, me falaram: ‘Karem, você não serve para ser readaptada, você vai ser aposentada’”, relatou Resende.
Ainda conforme Karen, a luta em defesa ao acesso às políticas públicas de inclusão, só se faz com conhecimento:
“O conhecimento, quando ele é acessível para todos dentro da perspectiva universal, é para que as pessoas com e sem deficiência tenham direito à educação, ao acesso e à acessibilidade. E eu ouso a dizer que são três palavras que eu tenho usado muito: acesso, acessibilidade e permanência. Se a pessoa não tem acesso, ela não vai chegar até onde ela precisa. Se ela chegar onde precisa e não tem acessibilidade, ela não vai permanecer, nem na escola, muito menos no local de trabalho”.
Na conversa, Leandro de Oliveira relatou um pouco sobre sua história de vida e de como foi difícil para ele e para a família o novo contexto de vida após perder totalmente a visão. “Enquanto eu enxergava, eu podia me adaptar ao sistema. De certa forma eu não estava precisando de adaptações externas, a sociedade não precisava se modificar por enquanto. Tive uma infância bem ativa em São José/SC, até mais ou menos 10, 12 anos de idade, quando a condição foi se agravando. Ali, eu fui perdendo o restinho de visão que eu tinha”, lembra.
O Assistente Social também relatou sobre uma das maiores barreiras que enfrentou, após perder 100% da visão: “A minha família foi me vendo ter dependência e depois foi vindo um medo junto. O medo desse mundo doido, de que uma pessoa que conseguia ter sua autonomia, estava tendo que depender de outras pessoas. Isso foi muito impactante. Foi muito difícil, porque a minha família não teve apoio para lidar com isso. Não teve suporte”.
Durante a conversa, Leandro também destacou a importância da inclusão e de como o esporte o ajudou a se libertar de medos adquiridos com a deficiência visual:
“A minha primeira interação foi com o esporte. Eu lembro que no ensino médio, junto com um amigo que me ajudava bastante, participei de provas de corridas, aí eu comecei a sair um pouco mais de casa. Até era um motivo para a gente ir à escola, nós treinávamos juntos. Logo depois, um familiar me apresentou o esporte na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, em uma modalidade que casou muito com o que eu estava precisando, que era desenvolver outras habilidades, perder o medo de me arriscar”.
O Sintram/SJ, na data-base de 2025, conquistou a criação de 300 cargos efetivos de Auxiliar de Ensino de Educação Especial, uma importante vitória na luta pela ampliação das políticas públicas de inclusão em São José/SC. A avaliação da conversa foi de que ainda há muito o que avançar, mas o conhecimento, a valorização dos trabalhadores da educação especial, a defesa das escolas públicas, a abertura de espaços para diálogo sobre inclusão, são algumas das ferramentas que auxiliam na luta pela garantia de políticas públicas que de fato sejam efetivas para as pessoas com deficiência, e o Sintram/SJ segue nesta luta, pela ampliação e garantia de direitos e pela construção de uma sociedade sem classes, onde todos tenham as mesmas oportunidades dentro de suas possibilidades.
Acesse a live da Roda de Conversa: https://www.instagram.com/p/DNEmz04uRBP/?hl=pt
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