Os Coletivos de Juventude e de Combate ao Racismo do Sintram/SJ realizaram uma roda de conversa, no último dia 23, sobre “A Rua e a Ampliação das Possibilidades de Vida”. A atividade ocorreu na sede do sindicato com a participação do Psicólogo Antimanicomial, Gabriel Amado, e do coordenador do Movimento Nacional em Defesa da População em Situação de Rua de SC, André Schafer.
Em sua fala, Schafer destacou alguns pontos importantes sobre a população em situação de rua. “O aumento do número da população em situação de rua é resultado do fracasso de várias políticas, assim como das gestões. Para tentarmos resolver o problema da população em situação de rua, é preciso criar e fortalecer as redes de afeto porque nada é construído através da violência, mas sim do cuidado e da política de redução de danos.”
André ainda explicou que é preciso promover uma ampliação das formas de prazer oferecidas a essas pessoas como, por exemplo, o esporte. Outra questão abordada por ele foi a moradia. “Se cada cidadão ganhasse um pedaço de terra quando nascesse, tudo seria diferente.”
Ele também criticou a forma como a segurança pública age com estas pessoas afirmando que não é a rua que é violenta, mas a sociedade. “A população de rua é um grande produto financeiro, porque a prefeitura, as ONGs evangélicas e a segurança pública ganham dinheiro com essas pessoas. Criminalizar não resolve. É preciso trabalhar com a realidade, com a redução de danos. O cuidado e afeto são os verdadeiros redutores de danos”, ressaltou.
Como solução, André afirmou que “não queremos apenas um prato de comida e cobertores, queremos discutir sobre geração de renda e moradia. Temos que investir no serviço público e sentar com as pessoas em situação de rua para conversar no sentido de construir com a rua e não para a rua.”
Já o psicólogo Gabriel disse que o distanciamento do trabalhador atrapalha também, porque todos precisam se envolver em uma construção participativa, para que a cidade discuta a rua. Para ele, não é a rua que usa drogas, é a sociedade, pois a rua é a sociedade. E a droga é, muitas vezes, a única fonte de prazer dessas pessoas.
“Não podemos apenas retirar o acesso às drogas dessas pessoas, mas criar uma outra fonte de prazer para elas. Cada pessoa é única, então temos que enxergá-la como singular, humanizar as suas vidas. Apenas tirando a droga, podemos até matar uma pessoa”, alertou.
Gabriel explicou que a Igreja enxerga essas pessoas como pecadoras, a Justiça como criminosas, e a Saúde como doentes. Existe uma visibilidade negativa em relação às pessoas em situação de rua. Para tentar combater esse problema, precisamos construir espaços coletivos como esse para trabalhar em conjunto porque somos múltiplas facetas, não somos uma coisa só. Temos que aproximar a rua e a comunidade, criando oportunidades e ampliando as oportunidades de vida para essas pessoas.
O psicólogo ainda citou a importância do Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009, que traz os objetivos da Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPSR), como assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro da população em situação de rua aos serviços e programas que integram as diversas políticas públicas desenvolvidas pelos órgãos do governo federal.
Confira mais detalhes sobre os participantes:
Gabriel Amado é Psicólogo Antimanicomial formado pela PUC/RS. É agente redutor de danos, educador social e membro do Movimento da Pop Rua do Estado de Santa Catarina. Além disso, é representante do Instituto Arco Íris na Cadeira do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento das Políticas Públicas da Pop Rua de Florianópolis e fundador da Clínica Ampliar.
André Schafer é coordenador do Movimento Nacional em Defesa da População em Situação de Rua de SC. Já viveu em situação de rua por 20 anos e hoje é militante antirracista e antimanicomial. André Schafer acumula experiência como educador social e redutor de danos na cidade de Florianópolis.
Confira o debate na íntegra, que foi transmitido no Instagram do Sintram/SJ!
Faça um comentário