Questionário expõe deficiências das atividades escolares não presenciais em São José

O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de São José (Sintram/SJ) aplicou, recentemente, um questionário direcionado aos profissionais da área da educação do município, levantando pontos sobre a sistemática de Educação a Distância e Atividades Escolares não Presenciais implantada pela Secretaria Municipal de Educação, após o início do isolamento social em razão da pandemia de coronavírus. A avaliação das respostas obtidas será apresentada a seguir.

A rotina dos professores e alunos mudou drasticamente. Agora, a sala de aula é virtual, em casa, e com adaptações que impuseram grandes desafios de fazer do ambiente familiar uma extensão da escola. As famílias, assim como os profissionais, precisaram se adaptar bruscamente ao novo modelo, o que causou impactos em diferentes níveis em relação ao tempo dedicado para tais atividades.

A educação não presencial gerou uma nova realidade nos lares de São José, evidenciando inúmeras problemáticas.

As respostas apresentadas no questionário mostram que a maioria dos profissionais de educação está lidando com uma ferramenta nova, ainda em caráter experimental, e com acentuadas dificuldades, considerando o pouco uso e a quase inexistente formação visando a utilização dessas plataformas on-line.

Os trabalhadores e trabalhadoras relatam ainda que não possuem estrutura, domínio das novas tecnologias e nem mesmo equipamentos adequados. Isso dificulta a organização e o planejamento das atividades. Os (as) profissionais da educação infantil relatam características específicas desta etapa de educação, que tornam as dificuldades ainda maiores.

Na avaliação dos profissionais, a educação não presencial tornou-se um instrumento de exclusão, agravado pelo fato de que não houve qualquer discussão preliminar com a comunidade escolar para a implementação dessa sistemática. A posição da maioria é contrária à modalidade de Educação à Distância (EaD).

Ainda conforme resultado do questionário, os professores afirmam que a educação não presencial tem se mostrado ineficaz para o processo de ensino-aprendizagem, funcionando somente para manter alunos e famílias com atividades/tarefas a serem realizadas em casa. Quando iniciado o isolamento social, os professores haviam convivido menos de dois meses com familiares e alunos, o que impossibilitou conhecer as características dos sujeitos envolvidos, o que possibilitaria um melhor direcionamento das ações nesse momento.

Além disso, todo esforço, dedicação e empenho para buscar um novo jeito de ensinar, tem gerado uma carga horária excessiva de trabalho aos profissionais. Isso porque, as mulheres são a maioria dos profissionais da rede municipal de ensino e, além das atividades enquanto servidoras, elas ainda acumulam tarefas domésticas e de cuidado de familiares doentes ou idosos, assim como de crianças e adolescentes, gerando uma dupla jornada de trabalho. Consequentemente, estão crescendo os casos de adoecimento, estresse, ansiedade e diversos outros transtornos.

Também há o aumento de gastos com aquisição de planos de internet de banda larga para viabilizar acesso adequado à rede, paralelo ao transtorno causado pela dependência de equipamentos emprestados por pessoas próximas.

Outro aspecto evidenciado por meio do questionário, é que o retorno dado pelos alunos quanto às atividades está diminuindo a cada dia. O foco de preocupação das famílias neste momento tem sido a manutenção do emprego, alimentação, salário e acesso ao auxílio emergencial.

Os(as) profissionais da rede municipal de ensino de São José estão cientes do papel que desempenham enquanto trabalhadores do serviço público, e que, por isso, devem prestar atendimento à população. Porém, os trabalhadores e as trabalhadoras acreditam que existem outras alternativas para realização de atividades com estudantes, como aquelas inicialmente desenvolvidas em caráter de atividades complementares, recomendadas inclusive pelo próprio Conselho Nacional de Educação (CNE).

Na avaliação do Sintram/SJ, o questionário aplicado serviu para deixar claro e confirmar mais uma vez que esta proposta de trabalho foi arbitrariamente imposta aos trabalhadores e trabalhadoras da Educação, sem abertura para diálogo nem mesmo no decorrer do processo, quando ajustes ainda podem ser implementados.

A permanecer a inobservância desses e outros tantos aspectos importantes, a aprendizagem dos alunos estará ainda mais comprometida. É preciso levar em conta a qualidade, e não somente a quantidade de horas ou dias de aulas ministradas.

2 Comentário

  1. Parabéns pela ação investigativa junto aos trabalhadores da educação e pela matéria. Mas preciso confessar que senti falta dos dados, apresentação dos gráficos que são gerados naquela ferramenta.

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