Pesquisa com servidores expõe ausência do Executivo de São José durante a pandemia de Covid-19

Com o objetivo de levantar informações sobre as condições de trabalho dos servidores municipais de São José, que estão atuando presencialmente no enfrentamento à pandemia de Covid-19, o Sintram/SJ aplicou um questionário direcionado aos trabalhadores de todas as secretarias.

Do total de servidores que responderam às perguntas, 42% correspondem à Secretaria de Saúde; 29,5% à Secretaria de Assistência Social; e 18,5% à Secretaria de Educação. Houve a participação também de trabalhadores das secretarias de Infraestrutura; Receita; Urbanismo e Serviços Públicos; Segurança, Defesa Social e Trânsito; Casa Civil e a Fundação do Meio Ambiente.

O primeiro ponto a ser destacado é que, de acordo com as respostas obtidas, os profissionais não receberam orientações adequadas sobre as medidas para garantir a segurança de todos no local de trabalho.

Quando questionados sobre o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e produtos de desinfecção nos locais de trabalho, o grupo de profissionais da área da saúde relatou que, inicialmente, houve grande dificuldade quanto à distribuição destes materiais, além de que, os produtos fornecidos nem sempre atendiam as especificações adequadas.

Apesar de amenizados na área da Saúde, os problemas no fornecimento de EPIs ainda persistem em alguns setores. Conforme os relatos, todas as secretarias são bastante afetadas, porém, a Secretaria de Assistência Social é a mais prejudicada, apresentando um número maior de reclamações neste sentido.

Quando questionados sobre capacitação adequada acerca dos riscos de contaminação de Covid-19 durante atendimento aos usuários, como cuidados pessoais e protocolo de proteção dos profissionais, a maioria respondeu que não recebeu orientação nenhuma por parte dos gestores das secretarias envolvidas. Os próprios trabalhadores que ofertaram informações adequadas aos demais colegas.

Também é apontada a ausência de orientações direcionadas aos trabalhadores, considerando que estes não estavam preparados para atuar sob pressão tão intensa. Igualmente, não existem instruções claras da gestão a respeito da organização do serviços públicos no município, causando grandes desencontros de informação e consequentemente sobrecargas de trabalho. Em nenhum momento foi apresentado um plano de contingência da situação direcionado especificamente aos servidores. Cada secretaria adotou ações independentes e distintas, causando informações conflitantes para os trabalhadores.

Como ponto positivo, os servidores apontam a estratégia de usar escalas de trabalho para diminuir a aglomeração e consequentemente o contato entre profissionais, adotada em quase todos os setores. Destacamos aqui novamente a Secretaria de Assistência Social que demorou para atender esta demanda dos servidores. Já no quesito higienização e desinfecção dos espaços, não houve clareza nas orientações de quem iria fazer e como deveria ser feito. Nesse contexto, destaque para o manuseio de equipamentos compartilhados, como o ponto eletrônico, e os espaços para alimentação e descanso, troca de roupa e descarte de equipamentos.

Em relação aos grupos de risco nos locais de trabalho e os protocolos de afastamento por medidas de segurança. A solução apresentada pelo Executivo de antecipar férias e licenças não foi bem aceita pela maioria.

Outro ponto importante é o trabalho home office. Servidores relatam a dificuldade no uso das ferramentas digitais e as novas tecnologias. Outros sequer possuem equipamentos e internet que possibilitem o cumprimento das atividades sugeridas pelas secretarias. Muitos apontam também o uso do telefone pessoal para fazer atendimento remoto, tendo que arcar inclusive com os custos gerados.

Há também relatos sobre a dificuldade de chegar ao local de trabalho, já que muitos dependem de transporte coletivo, serviço que está suspenso até o momento. Mesmo sem ter como se deslocar, trabalhadores relatam ameaças por parte do gestor, de que os dias não comparecidos ao local de trabalho serão descontados.

No que se refere à assédio moral, há relatos bastante preocupantes. Os profissionais são exacerbadamente cobrados na presença dos demais colegas de trabalho, criando situações de exposição e constrangimento. Agora com a utilização das redes sociais, as ações de assédio se intensificaram.

A maioria relata que não está recebendo qualquer tipo de assistência psicológica por parte do gestor, mesmo demonstrando sinais de que estão sendo afetados pela tensão gerada em razão do combate à pandemia: apreensão, ansiedade, medo de se contaminar e consequentemente transmitir a familiares. Muitos afirmam que são os únicos responsáveis por cuidar de familiar que está no grupo de risco, mas, mesmo assim, não consegue afastamento das funções.

O Sintram/SJ reforça que as discussões com o Executivo municipal sobre as condições de trabalho já existem há algum tempo. Avanços importantes foram obtidos em mesas de negociação, porém, não chegaram a ser cumpridos. Isso gera uma situação de alerta, pois, se antes da pandemia já existia um número expressivo de afastamentos por motivo de saúde mental, posteriormente esse quadro certamente será agravado.

Frente a este cenário evidenciado pelos relatos dos trabalhadores e trabalhadoras, o Sintram/SJ solicita ao Executivo municipal que intensifique a atenção dada aos servidores. Que a administração direcione esforços para garantir plenas condições de atuação destes profissionais neste momento em os serviços públicos são ainda mais cruciais não somente à população, mas também para a manutenção das estruturas de governança do município.

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