O Sintram/Sj realizou no último sábado, dia 14, na Sala de Formação Valmor Paes da Silva, a primeira edição do Cine Debate, com a exibição do filme “Uma noite de doze anos”, escrito e dirigido por Álvaro Brechner. O longa-metragem está concentrado em três figuras principais: José Mujica, Mauricio Rosencof e Eleuterio Fernández Huidobro, que passaram doze anos encarcerados com outros sete colegas na prisão de Puntas Carretas, onde atualmente funciona um shopping center em Montevidéu.
Mais tarde, Mujica se tornaria presidente do Uruguai, Rosencof o diretor de Cultura da Intendência da capital uruguaia e Huidobro senador.
Os personagens pertencem ao grupo Tupamaros, integrantes de um movimento político que surgiu no Uruguai quatro anos após a Revolução Cubana. É importante considerar esta relação para compreender o filme, pois o Movimento de Libertação Nacional Tupamaru (MLNT) também apostava, assim como os cubanos, na luta armada como uma forma de resistência social e de transformação política.
O nome do movimento político uruguaio Tupamaru, era uma homenagem a Túpac Amaru, considerado o líder da maior revolta anticolonial da chamada América Hispânica, região formada por 19 países. Nascido no Peru com o nome de José Gabriel Condorcanqui, adotou o nome do último imperador Inca e liderou cerca de cem mil indígenas contra os domínios coloniais.
Ao considerar essa referência, os Tupamaros tinham como objetivo, na década de 1960, conscientizar tanto a população urbana quanto a rural pela defesa da autonomia nacional do Uruguai diante das interferências militares e financeiras dos Estados Unidos.
Em março de 1972, Luis María Bordaberry foi democraticamente eleito presidente do Uruguai sob grande tensão social. De um lado, os Tupamaros eram capazes de grande mobilização social a partir do campo, de outro havia a Convenção Nacional dos Trabalhadores, a CNT, capaz de promover greves gerais. Entretanto, no ano seguinte de sua eleição, uma ação militar amparou o governo de Bordaberry a fechar o Congresso e colocar os partidos políticos na ilegalidade, fato que deu início a ditadura no Uruguai.
Retratando este contexto, o filme permite uma reflexão sobre o que é o chamado ‘estado de exceção’, um regime que, além de se impor sobre vários setores, como a política e o mercado, também diz quem deve viver e quem deve morrer.
Confira a seguir o depoimento de alguns dos participantes da primeira edição do Cine Debate
Andrea Vicente, professora de História e conselheira do Sintram/SJ
“Achei muito significativo a análise e a discussão sobre o filme. Nem sempre temos oportunidade de dividir com amigos as emoções que sentimos ao conhecer obras tão relevantes quanto o longa ‘Uma noite de 12 anos’”.Maria de Fatima Souza, assistente social
“Participar do Cine Debate foi uma experiência enriquecedora. O filme nos trouxe grandes reflexões sobre a importância de nos fortalecermos coletivamente para a construção da resistência e da luta. Além disso, ações como esta, possibilitam que o sindicato seja reconhecido enquanto espaço de formação e organização permanente das trabalhadoras e trabalhadores”.Roselia Aparecida de Castro, professora
“O filme foi chocante. Não sei se eu teria condições de passar por um terço do sofrimento deles. Contudo, me senti fazendo muito pouco pela utopia de sociedade desejada. A lição foi: o quanto hoje é mais fácil lutar, apesar de toda a conjuntura atual brasileira”.Zoe Bittencourt Bergler, professora
“‘Uma noite de 12 doze anos’ foi muito emocionante. Nos remete às épocas de governos ditatoriais aqui na América Latina, com todas as formas de torturas e perseguições a quem se opusesse ao regime. O filme nos mostrou muitas mazelas, mas também possibilitou perceber que com persistência e coragem podemos resistir e continuar lutando por um mundo mais justo”.Wanda Santos, professora
“Cine debate: um momento para refletir, discutir e nos fortalecermos não só nas lutas, mas também como pessoas”.
Outras edições do Cine debate estão previstas na agenda da Sala de Formação Valmor Paes da Silva. No dia 19 de outubro, às 14h30, será exibido o filme As Sufragistas.
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